Defendia Guy Debord que revolução não é mostrar vida para as pessoas, mas trazê-las à vida – o ato artístico enquanto reflexão a nossa própria existência. Estas palavras são causa, mote e sequela de «Da Representação à Auto-Representação» a qual, num só gesto curatorial, funde o acervo da Adorna com a coleção pessoal da fundadora; afinal de contas não existe distanciamento entre ambos, se oriundos da mesma raiz.
A excentricidade de uma exposição que rompe com o status quo ao interpor, sem cerimónia, tiragens fotográficas, formatos e códigos de linguagem. Paredes sobrecarregadas de imagens e o confronto de 33 fotógrafos, entregues ao serviço de uma inspiração comum: ao mesmo patrocínio constelar, a uma arte partilhada de hibridez e transversalidade que gosta de cruzar e confundir. Partilha sensível, narrada da infância à idade adulta que, por entre o visível e invisível, o dito e o silêncio, compõe uma crónica chamada Estefânia; ou não fosse este retrato, mais do que representativo, autobiográfico. Neste conjunto bem audível de vozes, inquirir é o mesmo que depararmo-nos com uma resposta que se aparenta com o absurdo, uma teia de signos e sinais cruzados. Achemos, na nossa própria cegueira, a vista de uma paisagem transfigurada: a vida começa a ser real. E aqui tem um rosto só, aquele que nos vai ensinando que, para garantir a revolução, há que partir da fotografia e ir além dela.
texto de Mafalda Ruão