Fotografar as ruas de Beirute não é tarefa simples. Aqui as pessoas vivem um clima de insegurança e têm medo de atentados. Uma desconfiança extrema que nunca tinha vivenciado antes. Há ruas onde se encontram postos militares, um ministério onde morreu fulano, onde se viveu ou ainda se vive. Mas há também ruas sem isto tudo onde, no entanto, olham para mim como um intruso, como se eu fosse um potencial perigo. Este foi o meu ponto de partida para este trabalho, era observado por anónimos que eu queria observar.
Deambulei e fotografei essas pessoas nas suas varandas e janelas. Instantes suspensos na cidade, passados para desenhos em tamanho monumental. Este gesto laborioso foi a maneira poética e política que encontrei para devolver esta gente aos seus lugares. A imagem da pintura clássica transcreve grandes cenas históricas; aqui a banalidade é transfigurada. Estes anónimos são a História, testemunhas e atores. Eles continuam dentro da sua simples existência, com o medo e o sofrimento dos acontecimentos de uma nação. O gesto simples de olhar o mundo pela janela faz sonhar com as rotinas da condição humana. Tornam-se os heróis e o mito anónimos da tragédia, numa alma de fundo que varre inexoravelmente o mundo.