Acrylic Afternoons

Acrylic Afternoons

Bruno Silva

Em Acrylic Afternoons, Bruno Silva partilha connosco os mares que agitam sua infância, adolescência e idade adulta. […] O que vemos são fotografias soturnas de espaços, corpos e momentos que nunca se deixam capturar por completo; se mostram ora como sonhos, ora como delírios, numa abordagem em que o fotógrafo não pretende se apoderar de nada, mas deixar-se dissolver junto, tal como se dissolvem os contornos nas imagens. […]

 

Sebastião Alba escreveu que “o amor é não esquecer”. […] Em um adendo a Alba, o amor é não esquecer e é deixar escapar – um mar, uma infância, uma mulher, uma noite. Aquilo que mais importa é o que menos se deixa apreender, que mais resiste a representações fiéis e nítidas. As imagens da memória só podem ser intuídas, numa aproximação que exige não só o olho, mas sobretudo o corpo. […]

 

Paisagem-escape, land-escape. Neste projeto de Bruno, o mar é uma constante que no entanto nunca lá está. A água confere o ritmo dos dias e das noites, é fixa no seu eterno movimento: puxa, repuxa, sobe, desce, num relógio que de tão alto e tão preciso, dele facilmente se esquece. […]

 

Aqui, os anos e as fotografias têm a duração de uma tarde acrílica, sentida em vinil, com o sabor salgado do amor na ponta da memória, de um mar que de tão evidente demorou a deixar-se ver – e que ainda assim nos escapa.

 

Excerto do texto “Paisagem – Escape” de Betina Juglair