L'ame du fond

Stéphane Lagoutte Exposição de Fotografia
16 Mar — 05 Mai, 2019

Fotografar as ruas de Beirute desperta suspeitas. Isso se deve a questões de segurança, o medo do ataque. Uma desconfiança que eu não tinha visto em nenhum outro lugar levou a esse ponto. São as ruas onde fica um posto militar, um ministério, a rua onde fulano morreu, morou ou vive. Mas também há as ruas sem tudo isso, e onde, no entanto, fui encarado como um intruso, cujas intenções não estão muito bem definidas e que representam um perigo potencial. Esta é a parte que me interessou. Fui observado por pessoas anônimas que eu, por sua vez, queria observar. Eu andei por aí e fotografei essas pessoas em suas varandas. Instantes suspensos na cidade. Então, por meio de um trabalho meticuloso, redesenhei-os para um tamanho monumental. Este gesto laborioso foi uma forma poética e política de devolver-lhes o seu lugar.

Assim como a pintura se propôs a transcrever grandes cenas históricas, aqui o banal se transfigura. Instantes feitos do nada e que, no entanto, elevam estes anónimos ao cume da História, da qual são testemunhas e actores. Eles contêm dentro de si, em sua mera existência, os medos e sofrimentos da história de sua nação. E o gesto mais mínimo que existe, olhar o mundo pela janela, veste-se com a roupagem da condição humana. Tornam-se arautos, portadores de mitos e arautos de tragédias que, como um maremoto, inexoravelmente varrem o mundo.

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