A minha avó sempre foi uma mulher de espírito forte. Nunca me apercebi disso até começar a fazer estas fotografias. Agora, as antigas histórias sobre como enfrentava adversidades ressoam em mim de forma mais profunda do que quando as ouvi pela primeira vez. Talvez tenha demorado a reconhecer a sua força porque, muitas vezes, confundimos força com agressividade ou mau feitio — e, ao criar-me, a minha Avó foi sempre acolhedora.

Mas os papéis inverteram-se. Agora sou eu a adulta, enquanto ela regressa a um estado puro, semelhante ao das crianças — sem filtros sociais ou culturais, em contacto íntimo com a sua essência. Agora sou eu quem cuida dela, em vez de ser ela a cuidar de mim. E, desta nova perspetiva, vejo algo profundamente admirável: uma mulher que perdeu grande parte da memória e de outras capacidades mentais, mas que, com firmeza e determinação, continua a dizer “Não!” à câmara — um ato de autoafirmação. Acredito que esta seja pura manifestação da verdadeira essência da minha avó.

Jorge Molder disse uma vez que é na escuridão que se vê a luz. E aqui estou eu, agora, com a minha avó, a ver, talvez pela primeira vez, a sua luz a emergir da escuridão.